Em busca de expor as necessidades e desafios que os grupos culturais de Parnaíba enfrentam, bem como os entraves acerca de incentivo à cultura e à arte na cidade, o presidente da Sociedade de Bois e Quadrilhas de Parnaíba, Roberto William, fez uso da Tribuna Livre da Câmara na sessão ordinária desta terça-feira (14). A demanda foi proposta por intermédio do vereador e ex-presidente da entidade, Batista do Catanduvas (Solidariedade), no requerimento de N° 1.225/2021.

Roberto discursou em nome dos representantes dos grupos dos bois Brilho da Ilha, Rei da Boiada, Lírio do Campo, Estrela Cadente, Brilho da Noite, Estrela Cadente Infantil, Rei do Gado Infantil, Lindo Guerreiro e Boi Garantido, além dos dirigentes das quadrilhas Balancinha, Lumiar, Fogo de Palha, Balança Mas Não Cai e Rei do Cangaço.

Conforme ele expôs em Plenário, com o advento da pandemia ocorrido nos dois últimos anos, a situação das agremiações se agravou ainda mais, chegando ao ponto de grupos tradicionais como a atual quadrilha campeã do São João da Parnaíba, Rei do Cangaço Mirim, além da Sanfona de Prata, anunciarem a não participação no festival do próximo ano.

“Tem grupos que já encerraram as atividades e outros correm o risco de acabarem, infelizmente”, alertou ao solicitar apoio dos Poderes Executivo e Legislativo, por meio da destinação de emendas impositivas.

A Sociedade de Bois e Quadrilhas de Parnaíba foi fundada em 2006 pelo professor Benjamim, figura emblemática que sempre lutou pelas causas da cultura parnaibana. O presidente fez uma rápida retrospectiva do Festival São João da Parnaíba, desde o seu início aos dias atuais. Conforme ele lembrou, o movimento surgiu em 2009 na Praça Mandu Ladino (Quadrilhódromo), com a participação de mais de 20 grupos divididos nas categorias adulto e infantil.

“Com pesar informo em Plenário que hoje não temos nem a metade destas quadrilhas e bois na ativa e as razões deste declínio são inúmeras. Posso citar como exemplo a região do Catanduvas, grande celeiro da cultura de boiadas. No bairro havia quatro bois: Novo Dominante, Novo Vencedor, Rei da Boiada e Boi Garantido. Em Ilha Grande onde a cultura junina também era muito forte, igualmente padece”, disse ao levar o público a uma reflexão sobre o aumento vertiginoso da criminalidade na região, ao mesmo tempo em que as crianças e adolescentes das comunidades mais vulneráveis foram privados de tais atividades culturais.

“Os grupos juninos de Parnaíba estão há dois anos sem atividades. Embora alguns deles estejam fazendo lives como a Quadrilha Lumiar e a Balança Mas Não Cai, além do Boi Rei do Cangaço, Brilho da Ilha, Rei da Boiada, Estrela Cadente, Fazendinha e Lírio do Campo, outros não conseguiram se manter de pé. Ao mesmo tempo, nos últimos dois anos temos visto com espanto o aumento da criminalidade em nossa região. O índice de homicídios está muito alto, nossos jovens estão na ociosidade, pois os grupos infantis que trabalham diretamente com esse público de 6 a 16 anos sofreram bastante”, alertou.

Além de manter a juventude longe da criminalidade, a tradição junina em Parnaíba ainda movimenta a economia local, pois um verdadeiro batalhão de profissionais se envolve na “magia do São João”. São aproximadamente 1.200 brincantes espalhados em todos os bairros da cidade. Somam-se aos artistas das quadrilhas maquiadores, coreógrafos, costureiras e bordadeiras, entre outros profissionais. Já os bois movimentam soldadores, artesãos, criadores de capacetes, toadas e etc.

“O público que assiste se deleita com os espetáculos, mas nem imagina a complexidade por trás do São João da Parnaíba. São aproximadamente 1200 pessoas envolvidas para fazer o São João da Parnaíba acontecer. Esses profissionais são pagos e todo esse dinheiro fica dentro do próprio município gerando imposto. Ressaltamos ainda que a Sociedade de Bois e Quadrilhas de Parnaíba trabalha com vários segmentos como social, educação, saúde e turismo. Então, suplicamos o apoio deste Poder Legislativo, pois os grupos juninos de Parnaíba necessitam deste suporte para que possamos alcançar nossa meta para mantermos viva a chama do São João da Parnaíba. Na Casa temos o apoio dos vereadores Daniel Jackson, Fátima Carmino, Neta, Carlson Pessoa, Batista do Catanduvas e rogamos o auxílio dos demais edis”, disse Roberto William.

O vereador propositor da Tribuna, Batista do Catanduvas, endossou a fala do orador e suplicou em plenário por uma ação enérgica dos demais parlamentares a fim de evitar “a morte da tradição de boiadas e quadrilhas, assim como do Festival São João da Parnaíba.

“As pessoas que fazem cultura na cidade de Parnaíba estão desmotivadas. Não temos mais subvenção social para iniciarmos os trabalhos e a premiação caiu bastante. Tínhamos 10 dias de concurso São João da Parnaíba quando levávamos cerca de 20 mil pessoas para as finais no Quadrilhódromo. Lá não gerava somente renda para as pessoas que trabalham nas quadrilhas e nos bois, mas também garantia trabalho em toda cidade com o vendedor ambulante da água, da cerveja, das comidas de rua e etc. Tenho certeza que a grande maioria das pessoas aqui presentes já estiveram pelo menos uma noite no São João da Parnaíba assistindo,  apreciando a beleza e o espetáculo junino de nossa cidade que já foi considerado um dos melhores do Nordeste”, disse emocionado. “Agora falta mais valorização desses artistas amantes da cultura da quadrilha e do bumba-meu-boi”, ponderou Batista.

Em 2017 a premiação do concurso foi reduzida de cinco prêmios para três, ou seja, agora somente os três primeiros colocados são prestigiados. O valor da premiação que era de R$ 171 mil caiu para 110 mil reais, gerando um déficit de 61 mil reais, fato que levou ao fechamento de vários grupos.

Ascom / CMP

 

 

 

 

 

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